segunda-feira, 13 de junho de 2011

A MENTIRA

Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros.    Efésios 4:25

Pode ser dizer que a mentira é um dos pecados mais praticado pela humanidade, afinal, quem nunca contou no termo popular uma "mentirinha". Será que a Bíblia nos orienta que a mentira as vezes é um mal necessário? Muitos cristãos têm se tornado insensível e debilitado com relação ao pecado da mentira. Jesus enfatizou que o diabo é o pai da mentira (Jo 8:44), outro exemplo na Bíblia é Ananias e Safira eles omitiram parte do valor, para ganharem admiração das pessoas, retendo parte do valor (Atos 5:1-5), e sofreram as conseqüências.
A mentira é um tipo de covardia ou insegurança, ou até mesmo, egoísmo para com a realidade, na maioria das vezes visando interesse próprio. Ela é proibida no decálogo (10 mandamentos),(Ex 20:16), e um dos efeitos da conversão é deixar de mentir (Ef 4:25). Hoje em dia não é facíl confiar nas pessoas, muitos usam mascaras, no termo Bíblico são Hipócritas. Hipócrita é uma transcrição do vocábulo grego "hypochrités", que significa ator ou protagonista no teatro grego. Os atores gregos usavam máscaras de acordo com o papel que representavamHá muitos que usam mascaras, atores da vida real, que muitas vezes, nem ao menos sabemos quem são.
Pedro deixou claro em uma de suas cartas para a obediência no Espírito à verdade (IPe 1:22),
não existe mentirinha, ou meia verdade, como Cristo disse que o nosso proceder seja sim,sim e não, não por isso o Cristão não tem que ficar fazendo juramento para que acreditem nele, é o que Jesus nos orientou (Mt 5:34-37). A mentira está inclusa na lista, entre os pecados que nós consideramos de maior gravidade, em Apocalipse deixa claro o fim dos mentirosos (Ap 21:8).
Eu li recentemente o seguinte: mentira anestesia a consciência do mentiroso; torna-o insensível à verdade; a verdade não penetra para uma transformação. A mentira vicia com mais facilidade, já que uma mentira conduz a outra. Eu considero a mentira o princípio da falsidade, pois, com isso muitos se escondem quem realmente são.
Estamos todos sujeitos ao erro, mas nem por isso devemos permanecer nele, se confessarmos a Deus, Ele, é fiel e justo pra nos perdoar (IJo 1:9), que a cada dia sendo renovado, andando em novidade de vida (Rom 6:4), que tudo que fizermos na força do Senhor que nos supre (IPe 4:11), para que respeitemos o nosso próximo, porque quem ama se alegra com a verdade (ICo13:6).

Oton G. Cesar
http://otoncesar.blogspot.com/

domingo, 29 de maio de 2011

Orientações para odiar o pecado





Por Richard Baxter
Tradução: Joelson Galvão Pinheiro

1º. Orientação

 

Se esforce tanto para conhecer a Deus quanto para ser afetado pelos Seus atributos. Viva sempre diante Dele. Ninguém pode conhecer o pecado perfeitamente porque ninguém pode conhecer Deus perfeitamente. Você não pode conhecer o pecado mais do que você conhece a Deus, contra quem o seu pecado é cometido; a malignidade formal do pecado é relativa, pois é contra a vontade e os atributos de Deus. O homem piedoso tem algum conhecimento da malignidade do pecado porque ele tem algum conhecimento do Deus que é ofendido pelo mesmo. O ímpio não tem um conhecimento prático e prevalente da malignidade do pecado porque eles não têm um conhecimento de Deus. Aqueles que temem a Deus temerão o pecado; aqueles que em seus corações são irreverentes e impertinentes para com Deus, serão, em seus corações e em suas vidas, a mesma coisa para com o pecado; o ateísta, que acha que não existe Deus, também acha que não há pecado contra Ele. Nada no mundo inteiro irá nos mostrar de maneira tão simples e poderosa a maldade do pecado, do que o conhecimento da grandeza, bondade, sabedoria, santidade, autoridade, justiça, verdade, e etc., de Deus. Portanto, o senso da Sua presença irá reviver em nós o senso da malignidade do pecado. 


2º. Orientação

 

Considere bem o ofício de Cristo, Seu sangue derramado e Sua vida santa. Seu ofício é expiar o pecado e destruí-lo. Seu sangue foi derramado por ele. Sua vida o condenou. Ame a Cristo e você odiará o que causou Sua morte. Ame-O e você irá amar ser feito à imagem Dele, e odiará aquilo que é tão contrário a Ele.  

3º. Orientação

 

Pense bem o quão santo é a obra e o ofício do Espírito Santo, e quão grande misericórdia isto é para nós. Irá o próprio Deus, a luz celestial, descer a um coração pecaminoso para iluminá-lo e purificá-lo? E ainda devo manter minha escuridão e corrupção, em oposição a essa maravilhosa misericórdia? Embora nem todo pecado contra o Espírito Santo seja uma blasfêmia imperdoável, tudo é ainda mais agravado por meio disso.

4º. Orientação

 

Considere e conheça o maravilhoso amor e a misericórdia de Deus, e pense no que ele tem feito por você e você odiará o pecado, e terá vergonha dele. É um agravamento do pecado até mesmo para a razão comum e a ingenuidade, que devemos ofender um Deus de infinita bondade que encheu nossas vidas de misericórdia. Você será afligido se você tem injustiçado um extraordinário amigo; seu amor e sua bondade virão aos seus pensamentos e você sentirá raiva de sua própria maldade. De um lado veja a grande lista das misericórdias de Deus pra você, para sua alma e seu corpo. Do outro, observe satanás, escondendo o amor de Deus de você, e tentando você debaixo de uma pretensa humildade de negar Sua grande e especial misericórdia; procurando destruir seu arrependimento e humilhação escondendo também o agravamento do seu pecado.

5º. Orientação

 

Pense no propósito da existência da alma humana. Para que ela fora criada? Para amar, obedecer, e glorificar nosso Criador; e você verá o que é o pecado, pois ele perverte e anula esse propósito. Quão excelentemente grande e santa é a obra para o qual fomos criados e chamados para fazer! E deveríamos desonrar o templo de Deus? E servir ao diabo em sua imundície e tolice, quando deveríamos receber, servir, e glorificar nosso Criador?

6º. Orientação

 

Pense bem quão puros e doces deleites uma alma santa pode desfrutar de Deus em Sua santa adoração; e então você verá o que o pecado é, pois ele rouba-nos destes deleites e prefere uma luxúria carnal ao invés deles. Oh com quão grande felicidade poderíamos realizar cada dever, quão grandes frutos poderíamos produzir servindo nosso Senhor, e que deleites encontraríamos em Seu amor e aceitação, e como pensaríamos mais na bem-aventurança eterna, se não fosse o pecado; o qual afasta as almas dos portões dos céus, e as faz cair, como um suíno, no seu amado lamaçal.

7º. Orientação

 

Considere a vida que você deverá viver para sempre, se você for para o céu; e a vida que os santos vivem lá agora; e então não pense que o pecado, que é tão contrário a isso, não seja uma coisa tão vil e odiosa. Ou você viverá no céu, ou não. Se não, você não é um daqueles para quem eu falo. Se você for, você sabe que lá não há prática de pecado; não há mente mundana, orgulho, paixões, luxúria e prazeres carnais lá. Oh se você pudesse ver e ouvir apenas uma hora, como aqueles abençoados espíritos estão elevadamente amando e magnificando o glorioso Deus em pureza e em santidade, e quão longe eles estão do pecado, isso faria você repugnar o pecado e ver os pecadores num estado de extrema decadência como homens nus nadando em seus excrementos. Especialmente, pensar que vocês têm esperança de viver para sempre com aqueles santos espíritos; e, portanto o pecado será desgostoso para você.

8º. Orientação

 

Olhe para o estado e tormento dos condenados, e pense bem na diferença entre anjos e demônios, e aí saberá o que é o pecado. Anjos são puros; demônios são sujos; santidade e pecado são extremos. Pecado habita no inferno, e santidade no céu. Lembre-se que toda tentação vem do diabo, para fazer você ser como ele; e toda santa disposição vem de Cristo, para fazer você como Ele. Lembre-se que quando você peca, você está aprendendo e imitando o diabo, e está até agora sendo como ele (João 8:44). E o fim de tudo isso é que você sinta também os sofrimentos dele. Se o inferno de fogo não é bom, então o pecado não é também.

9º. Orientação

 

Sempre veja o pecado como alguém que está pronto a morrer e considere como todo homem o julga no final. O que os homens no céu dizem a respeito do pecado? O que os homens no inferno dizem a respeito do pecado? E o que os homens à beira da morte dizem a respeito do pecado? E o que as almas convertidas e as consciências despertadas dizem? O pecado traz deleite e é algo que eles não temem como é agora? Eles o aplaudem? Irão alguns deles falar bem do pecado? Porém, todo mundo fala mal do pecado em geral agora, mesmo quando eles amam e cometem diversos atos; Você irá pecar quando estiver à beira da morte?

10º. Orientação

 

Sempre veja o pecado e o julgamento juntos. Lembre-se que você terá que responder por isso diante de Deus, dos anjos, e de todo o mundo; e você o conhecerá melhor.

11º. Orientação

 

Olhe para a doença, pobreza, vergonha, desespero, podridão e morte na sepultura; e isso vai te ajudar um pouco a entender o que é o pecado. Estas são coisas que estão diante de ti e em seus sentimentos; você não precisa de fé para entendê-las. E por tais efeitos você poderá entender um pouco da sua causa.

12º. Orientação

 

Olhe para algumas pessoas santas e eminentes sobre a terra e para o louco, profano e maligno mundo. E a diferença vai te dizer em parte o que é o pecado. Não há afabilidade numa pessoa santa e irrepreensível, que vive em amor para com Deus e para com as pessoas, e na alegre esperança da vida eterna? Não é um abominável beberrão, promíscuo, blasfemador, malicioso, perseguidor, uma criatura muito repugnante e deformada? Não é uma visão muito miserável o estado ímpio, louco, confuso e ignorante deste mundo? Não é nisso tudo em que o pecado consiste?
Embora a principal parte da cura seja fazer com que a vontade odeie o pecado, e isso é feito descobrindo sua malignidade; eu ainda adicionarei mais algumas orientações para a parte prática, supondo que o que já foi dito tenha causado efeito.

13º. Orientação

 

Quando você descobrir a sua enfermidade e perigo, se entregue a Cristo como o Salvador e médico de almas, e para o Espírito Santo como seu Santificador, lembrando que ele é suficiente e disposto a fazer o trabalho que Ele mesmo prometeu fazer. Não são vocês que devem salvar e santificar a vocês mesmos (a não ser que vocês façam isso através de Cristo). Mas aquele que assumiu fazê-lo, o faz para a sua glória.

14º. Orientação

 

Você deve estar preparado a ser obediente em aplicar os remédios que Cristo prescreveu a você; e observando as Suas orientações para que haja cura. Não seja tímido ou fraco dizendo que é muito amargo e muito dolorido; mas confie em Seu amor e no Seu cuidado; pegue aquilo que Ele te prescreveu ou te deu e não adicione mais nada. Não diga: “É muito penoso, e eu não consigo”.  Porque o que Ele te ordena é seguro, proveitoso, e necessário; e se você não consegue, tente então carregar sobre você sua enfermidade, morte e o fogo do inferno! São a humilhação, confissão, restituição, mortificação e a santa diligência piores que o inferno?

15º. Orientação

 

Veja que você não tome parte com o pecado, nem dispute ou lute contra seu Médico, ou com qualquer coisa que lhe faça bem. Justificar o pecado, ir em direção a ele e subestimá-lo, lutar contra o Espírito e a consciência, ir contra os ministros e amigos piedosos, odiando a disciplina; estes não são os meios pelos quais você será curado e santificado.

16º. Orientação

 

Veja aquela malignidade em cada um dos seus pecados particulares, que você pode ver e dizer que é generalizada. É um grotesco engano de vocês mesmo, se você vai falar muito do mal do pecado e não ver nenhuma malignidade em seu orgulho, em seu mundanismo, paixões e perversidades, em sua malícia e severidade, em suas mentiras, maledicências, escândalos, ou pecando contra a consciência por comodidade e segurança mundana. Que contradição é um homem orar e agravar seu pecado, e quando ele é reprovado por isso, tentar se esquivar ou justificar-se. É como se ele fosse falar contra a traição e contra os inimigos do rei, mas porque os traidores são os seus amigos e parentes, irá proteger ou escondê-los e tomar parte com eles.

17º. Orientação

 

Mantenha-se o mais longe que puder das tentações que alimentam e fortalecem o pecado que você dominaria.  Ponha um cerco em seus pecados e os deixe morrer de fome afastando a comida e o combustível que o mantém vivo.

18º. Orientação

 

Viva no exercício das graças e deveres que são contrários ao pecado que você está mais em perigo.  Pois a graça e o dever são contrários ao pecado, isso o mata e nos cura, como o fogo nos cura do frio ou como a saúde nos cura da doença.

19º. Orientação

 

Não seja enfraquecido ouvindo a incredulidade e a desconfiança, e não jogue fora os confortos de Deus, pois eles são sua força e podem te encorajar. Não é assustador, deprimente, nem desesperadamente desencorajador, estar apto a resistir ao pecado; mas o senso do amor de Deus e o senso de gratidão da graça recebida é um grande encorajamento (com temor cauteloso).

20º. Orientação

 

Sempre suspeite do amor carnal próprio, fique atento a isso. Pois essa é a fortaleza onde o pecado se esconde, e é também o seu patrono; sempre pronto para te arrastar para o pecado e para justificá-lo. Nós somos sempre muito propensos a sermos parciais em nosso próprio caso; como no caso de Judá com Tamar e Davi quando Natã o reprovou em sua parábola; isso mostra nossas próprias paixões, nosso próprio orgulho, nossa própria censura, nossa própria maledicência, nossas relações prejudiciais, nossa negligência nos deveres; estas coisas para nós parecem pequenas, desculpáveis, senão justificáveis. Considerando que poderíamos ver facilmente a culpa disso tudo nos outros, especialmente em um inimigo, deveríamos estar ainda mais familiarizado conosco e deveríamos amar mais a nós mesmos e, portanto odiando mais ainda nossos próprios pecados.  

21º. Orientação

 

Considere seu primeiro e principal trabalho matar o pecado em sua raiz; limpar o coração, que é a fonte; pois é do coração que vem todo o mal em nossa vida. Saiba quais são as principais raízes; e use o seu maior cuidado e diligência para mortificá-las, especialmente as seguintes:
1)  Ignorância.
2)  Incredulidade.
3) Inconsideração.
4)  Egoísmo e orgulho.
5) Carnalidade, em agradar um apetite, luxúria e fantasia selvagens.
6) Insensibilidade, dureza de coração e sonolência no pecado.

22º. Orientação

 

Conte o mundo todo e todos os seus prazeres; honras e riquezas não são melhores do que aparentam ser; assim satanás não vai conseguir encontrar iscas para te pegar. Como Paulo, considere tudo como esterco (Fp. 3:8) e nenhum homem irá pecar e vender sua alma, pois ele conta estas coisas como esterco.

23º. Orientação

 

Mantenha-se em conversas celestiais, e então sua alma estará sempre na luz, assim como aos olhos de Deus; e ocupe-se com aqueles afazeres e deleites que o livram do prazer com as iscas do pecado.

24º. Orientação

 

Que seu trabalho diário seja ser um cristão vigilante; embora haja distração e um medo desencorajador, nutra a perseverança.

25º. Orientação

 

Preste atenção no começo do pecado e suas primeiras abordagens. Oh quão grande diferença faz um pouco desse fogo aceso! E se você cair, levante rápido através de um profundo arrependimento, não importando o quanto isso pode te custar.

26º. Orientação

 

Faça do seu único labor e regra diligente o entender a Palavra de Deus.  

27º. Orientação

 

Em casos de dúvidas, não se aparte facilmente do julgamento unânime da maioria dos sábios e piedosos de todas as épocas.

28º. Orientação

 

Não seja precipitado nem aja por emoções, mas proceda deliberadamente e prove bem todas as coisas antes de se firmar nelas.

29º. Orientação

 

Esteja familiarizado com a sua temperatura corporal e em quê o pecado é mais inclinado a você, e também em que situação o pecado te deixa mais vulnerável, e nisso você deve ser mais rigoroso.

30º. Orientação

 

Mantenha sua vida em ordem santa, tal como Deus ordenou que você vivesse. Pois não há preservação para os retardatários que não se mantém no caminho, que abandonaram a ordem e o mandamento de Deus. E esta ordem está principalmente nestes pontos:
1) Que você mantenha união com a universal igreja. Não esteja separado do corpo de Cristo sobre qualquer pretensão que seja. Esteja na igreja como um regenerado, mantendo a comunhão espiritual em fé, amor e santidade; como um congregado, mantendo a comunhão externa, na profissão de fé e na adoração.
2) Se vocês não são mestres, vivam sob seus fiéis pastores como obedientes discípulos de Cristo.
3) Que os mais piedosos, se possível, sejam seus amigos íntimos.
4) Seja esforçado em algum chamado externo.

31º. Orientação

 

Coloque todas as providências de Deus, quer a prosperidade ou adversidade, contra seus pecados. Se ele te der saúde e prosperidade, lembre-se que por meio disso Ele requer sua obediência e tem um chamado especial para você. Se Ele te afligir, lembre-se que pode ser algum pecado pelo qual Ele está ofendido; portanto, agarre isso como Seu remédio e veja que você não obstrua essa obra, mas seja diligente, pois isso pode purgar seu pecado.

32º. Orientação

 

Espere pacientemente em Cristo até que ele tenha realizado a cura, que não acabará até que essa árdua vida chegue ao fim.  Persevere na assistência do Seu Espírito e dos Seus meios; pois Ele virá no tempo certo e não tardará. “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós com a chuva serôdia que rega a terra” (Os. 6:3). Ainda que você diga: “Não há cura para nós” (Jr. 14:19) “Eu curarei sua infidelidade, eu de mim de mesmo os amarei” (Os. 14:4). “Mas para vós outros que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas” (Ml. 4:2) “e bem-aventurado todos os que nele esperam” (Is. 30:18).

Deste modo, eu dei algumas orientações que podem ser úteis para o ódio ao pecado, humilhação e libertação dele.   

O Efeito do Pecado


Por Paulo Junior
“E disse ela: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão. E despertou ele do seu sono, e disse: Sairei ainda esta vez como dantes, e me sacudirei. Porque ele não sabia que já o SENHOR se tinha retirado dele”.  Jz 16.10
Trataremos nessa mensagem de hoje sobre um dos temas mais terríveis da cristandade, porém pouco mencionado nos púlpitos atuais: o efeito do pecado, isto é, suas consequências.
Primeiramente, relembremos rapidamente o que é pecado – já que muitos cristãos hoje em dia parecem não saber o que é. Pecado é transgressão à Lei de Deus, é iniquidade, é desobediência a Deus e seus preceitos, é sair dos Seus retos caminhos e se rebelar contra Ele, quebrando sua Lei, ou seja, coisa muito comum nos dias atuais por parte dos ímpios e também para boa parte dos cristãos. Mas não trataremos hoje propriamente do pecado e sim das suas trágicas consequências. É muito importante abordar o poder letal, degradável e destruidor que tem o pecado, pois isso nos traz reflexões, consciência do perigo que corremos e, consequentemente, temor e arrependimento.
Quero usar nesse tema o personagem descrito no versículo acima, tirado do livro de Juízes: Sansão. Sansão foi chamado para ser juiz de Israel e durante vinte anos julgou Israel, sendo o responsável por guardar os israelitas e libertá-los da opressão dos filisteus. Sansão, desde sua infância possuía um voto com Deus, era nazireu de Deus (veja Nm 6.1-21), não podia ser dado ao vinho, nem à prostituição e nem navalha poderia passar sobre sua cabeça, resumindo, Sansão era separado para o ministério: como juiz, deveria andar debaixo de um conjunto de normas e regras, tendo uma conduta exemplar diante de Israel e permanecendo obediente às leis de Deus.
Infelizmente Sansão andou de forma contrária a todas as regras estabelecidas por Deus, quebrando todos os princípios. Violando de tal maneira a Lei de Deus, Sansão pecou desenfreadamente e o livro de Juízes, do capítulo 13 ao 16 descreve claramente seus inúmeros delitos: Sansão dormiu com uma prostituta, tocou no corpo de um animal morto, casou-se com uma filisteia, mentiu várias vezes e, por último, em seu relacionamento com Dalila – mulher do vale de Soreque – revelou seu segredo tendo os cabelos cortados, quebrando totalmente seu voto de nazireado.
...chamado para ser juiz de Israel... andou de forma contrária a todas as regras estabelecidas por Deus
Sansão era conhecido por sua grande força física: quando o Espirito de Deus vinha sobre ele, ele se tornava o homem mais forte da Terra: imbatível, indestrutível, intocável, pois a graça, a misericórdia e o poder de Deus estavam sobre Sansão. Contudo, houve um fator que destruiu Sansão, que o arruinou para o resto de sua vida, esse fator, esse item, foi o pecado. Gostaria agora de mostrar o efeito do pecado na vida de Sansão, pois Paulo em sua epístola aos Gálatas escreve: “tudo que o homem semear isso ceifará” (Gl 6.7). Sansão semeou pecado e veremos agora quais consequências ele colheu.
Primeira consequência: A misericórdia de Deus é retirada.
“E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a sua alma se angustiou até a morte. E descobriu-lhe todo o seu coração, e disse-lhe: Nunca passou navalha pela minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe; se viesse a ser rapado, ir-se-ia de mim a minha força, e me enfraqueceria, e seria como qualquer outro homem”. Jz 16.16-17
Se você notar, mesmo Sansão vivendo em pecado, Deus sempre o livrava das mãos dos filisteus, como notamos em (Jz 16.9). Isso sucedeu várias vezes, porém, nos versículos 16 e 17 do mesmo capítulo vemos que a misericórdia de Deus é retirada! Dalila o molesta de tal maneira, intentando descobrir o segredo da sua força, que Sansão revela a ela, dizendo: “nunca subiu navalha na minha cabeça”. Deus permitiu que sua fraqueza fosse exposta, seu ponto fraco uma grande brecha para sua queda.
Meu querido irmão, essa é a primeira consequência daqueles que estão vivendo uma vida de pecado, daqueles que estão brincado com pecados ocultos e dizem: “Deus ainda me honra, tenho respostas de orações, recebo alguma promoção aqui e outra ali, algumas bênçãos vem sobre mim e sobre minha família, continuo subindo no altar e cantando bem ou estou diante de um púlpito pregando com eloquência, recebendo elogios e até vendo frutos.
Isso ocorre pelo que está escrito em Lamentações 3.22: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. Mas, invariavelmente, uma hora a misericórdia será retirada como ocorreu com Sansão! Aí sua vergonha será exposta, seus delitos contra Deus não ficarão impunes, cedo ou tarde isso será revelado e você poderá ser humilhado e exposto como o foi o rei Davi, quando pecou com Bate-Seba. Talvez você diga: “a misericórdia de Deus é muito grande”. Sim ela é. Ele é tardio em se irar (Na 1.3), mas preste muita atenção ao que o versículo diz: “Ele é tardio”, isso não significa que Ele nunca vai se irar! Veja o que diz em Jeremias 16.13: “porque não usarei de misericórdia convosco”. Para você que está vivendo uma vida de pecados ocultos, a qualquer hora a misericórdia poderá ser retirada e você estará totalmente entregue às mãos do inimigo!
Segunda consequência: A perda de sua força.
“(...) e retirou-se dele a sua força”. Jz 16.19
Como eu havia dito antes, Sansão era conhecido por sua estrondosa força física, mas pelos seus pecados sua força se foi, Sansão ficou fraco, sem qualquer possibilidade de vencer uma luta ou guerra; Sansão estava inofensivo diante do seu inimigo: os filisteus. Agora ele tinha se tornado um homem comum: não detinha mais o poder sobrenatural que lhe confiava grande força.
Eis a segunda consequência do pecado: perdemos a força, ficamos fracos, não temos força para orar, não temos força para estudar a Palavra, não temos força para uma vida cristã saudável e, principalmente, não temos força para enfrentar o nosso inimigo: Satanás e seus exércitos. Com uma vida em pecado, não temos a menor chance contra ele! A força espiritual que nos revestia e as qualidades espirituais se foram devido ao pecado. Um dia já tivemos força, ânimo, poder, autoridade; lembra-se quando você não tinha medo de ninguém e tinha disposição para fazer qualquer coisa que dissesse respeito a Cristo e sua obra? Agora você se pergunta por que está tão fraco, desanimado, incrédulo, com anemia espiritual; às vezes você pensa que é culpa de alguém, que é o diabo que está causando essa fraqueza; às vezes atribui que é a vontade de Deus, que é um tempo ou uma fase em sua vida e nunca que se trata do efeito do pecado de uma vida cheia de brechas e engano!
Talvez possa ser isso que está tirando sua força, meu querido irmão! Não é esse nem aquele fator: é consequência do pecado! O pecado enfraquece, corrói, destrói e mina as forças de qualquer cristão conhecedor das Escrituras, mas que a transgride voluntariamente. Se você está assim: não tem força para mais nada na sua vida, mesmo sendo cristão, examine sua vida à luz da Bíblia e veja quais brechas você tem dado e em quais pecados você está envolvido.
Terceira consequência: Ausência da presença de Deus. (cap. 16.20)
 “(...) Porque ele não sabia que já o SENHOR se tinha retirado dele”. Jz 16.20
É um grande erro pensarmos que Deus, por causa de Seu amor, é conivente com nossas ações pecaminosas, pois Ele não tolera o pecado e também não tolera o pecador (Na 1.3) e também Deus não tem comunhão nem caminha com ímpios (Sl 1, 2Co 6.14-16). O Espírito de Deus, a presença de Deus se retirou de Sansão, essa é a mais trágica consequência que o pecado traz sobre nós: a ausência de Deus.
Davi sentiu exatamente isso quando cometeu seus gravíssimos pecados e ele sabia o perigo que corria de ocorrer o mesmo em sua vida, quando escreveu o Salmo 51.11: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.” Davi sabia que uma vida de pecado, que delitos graves, conscientes, praticados contra Deus e Sua Palavra, poderiam leva-lo a ausência de Deus.
Essa é a terceira consequência: perder Sua presença. O que somos nós sem o Espírito de Deus, sem a Sua presença para nos guiar, nos regenerar, nos policiar, nos advertir? Ela é o fluxo de vida da Igreja, o fluxo de vida do cristão. Sem a presença de Deus estamos mortos, entregues a sorte, ao mundo, e aos desejos da carne. Como cegos em um mundo sem luz, completamente perdidos e sem direção: eis o que ocorre com aqueles que estão vivendo uma vida de pecado. Então te pergunto: quantos cristãos dentro da Igreja não estão em pecado? Quantos ministérios de louvor e da Palavra não estão em pecado? Quantas igrejas inteiras não têm seus alicerces fundamentados no pecado? Mas ainda prevalecem, ainda funcionam normalmente, entretanto, sem saber que sutilmente a presença de Deus já os deixou faz muito tempo.
Notem o que o versículo diz: “Nao sabia Sansão”. Ele nem percebeu, tinha se tornado insensível, carnal, não diferenciava mais o santo do profano, assim é a vida de muitos cristãos. Estão regendo suas vidas e ministérios na emoção, na carne, no intelecto. Só que tem outra questão importantíssima, que eu não poderia deixar de abordar: se há ausencia de um espírito, há a presença de outro! Não ficamos sozinhos, vazios. Se o Espírito de Deus sai, o espírito do mal entra, assim Satanás e seus demônios passam a dominar aquela pessoa.
Veja o exemplo do rei Saul: “E o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do SENHOR.” (1Sm 16.14). Essa consequência é inevitável. Agora eu te pergunto: será que você que está escondendo todos esses pecados, transgredindo a Lei de Deus diariamente não está tendo a sua vida e o seu ministério regidos por Satanás?Meu Deus do céu, que condição execrável se encontra tal homem, tal mulher, tal denominação, que estão edificando Sião com sangue e Jerusalem com iniquidade! (Mq 3.10)
Quarta consequência: Cegueira.
“(...) Então os filisteus pegaram nele, e arrancaram-lhe os olhos”. Jz 16.21
Os filisteus vêm, vazam os olhos de Sansão e os arrancam, deixando-o totalmente cego. Essa é a quarta consequência: cegueira. Uma pessoa que vive na prática do pecado não tem mais discernimento espiritual, não sabe mais por qual caminho anda, não sabe quando houver decisões a tomar quais serão as corretas, fecham negócios errados, “batem cabeça” de um lado para o outro, tem atitudes incoerentes, pensa estar fazendo o bem, quando na verdade está fazendo o mal!
Veja o que diz Provérbios 14.12: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”.Será que você não está assim: caminhando por veredas que aos seus olhos são saudáveis, no emprego, no relacionamento, no que diz respeito à Igreja, mas na verdade está em completa cegueira, cavando covas nas quais você mesmo cairá? Será que você não está magoando pessoas, ferindo sua família, oferecendo fogo estranho no altar do Senhor e achando que tudo isso é correto, que tudo isso é benefíco e que Deus ainda está te aprovando?
Sinto te dizer: se você estiver vivendo uma vida de pecado, é exatamente assim que a sua vida se encontra! Você não pode dar crédito a si mesmo! Como se fiar em um cristão conhecedor da Lei que ao mesmo tempo é transgressor da mesma?!Tal pessoa, tal crente, não é digno de confiança, nem é digno de em si próprio confiar, pois a quarta consequência de uma vida de pecado é a cegueira.
Quinta consequência: Ficar amarrado.
“(...) e amarraram-no com duas cadeias de bronze (...).” Jz 16.21
Depois de cegar a Sansão, os filisteus o tomaram e amarraram com duas cadeias de bronze, anulando assim qualquer movimento extenso de Sansão. Essa é a quinta consequência: uma vida amarrada, limitada, atrofiada.
Será que sua vida não está assim? Todas as áreas emperradas: casamento em crise, filhos rebeldes, dívidas por todos os lados, doenças, nada anda bem, você se sente totalmente amarrado, portas fechadas, o “não” passou a ser seu companheiro. Você atribui isso ao governo, à economia, põe e culpa no diabo, nos familiares, xinga, murmura, blasfema e esquece de pensar: talvez tudo isso é efeito dos meus pecados, de uma vida cristã relaxada, desregrada?
Note uma coisa: uma pessoa amarrada não está totalmente impossibilitada de fazer as coisas. Tal pessoa possui ainda alguns movimentos: ela pode andar, mexer as mãos, a boca, os olhos, porém, as cadeias de bronze são pesadas, ela está atada, ela tem seus movimentos limitados! Dessa forma é a vida de uma pessoa amarrada: ela não deixa de fazer nada, entretanto, todas as suas ações e áreas da sua vida são limitadas. Não conseque concluir nada que inicia, nem ter progresso e sucesso nos seus projetos, pois está amarrada.
Outro detalhe importante: as cadeias são de bronze, são impossíveis de ser quebradas pela força humana, necessitam de uma força sobrenatural para serem quebradas, mas como o pecado retirou essa força – a presença de Deus – essa pessoa jamais conseguirá se libertar. Isso implica que, por seus pecados, essa pessoa está condenada a uma vida cristã sofrível, arruinada e infeliz.
Sexta consequência: Escravidão.
“(...) e girava ele um moinho no cárcere”. Jz 16.21
Depois de ser acorrentado, Sansão foi colocado em uma prisão, numa masmorra, foi condenado a ficar ali trabalhando num moinho. Essa é a sexta consequência: o pecado nos faz escravos, pois Pedro diz: “(...) Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo”. (2Pe 2.19).
Sansão foi vencido pelo pecado, se tornou escravo dele, sujeitando-se aos seus moldes, ao seu domínio e ao seu poder destruidor. Também se tornou escravo de outro inimigo, porque estava no cárcere dos filisteus, era então prisioneiro dos filisteus, escravo deles, estava sujeito às suas ordens e vontades. Dessa maneira ocorre na vida daqueles que vivem em pecado: se tornam escravos do nosso inimigo, o diabo. E querendo ou não, sabendo ou não, estão sujeitados a sua vontade! Você já parou para pensar que consequência trágica ser escravo do diabo, depois de ter a liberdade em Cristo, depois de ter acesso ao sangue da nova e eterna aliança que veio do Calvário, depois de gozar da redenção e da verdade que liberta (Jo 8.32) se tornar de novo escravo de Satanás, voltar para suas garras maléficas, como isso pode ser possível? A resposta você sabe: pecado.
O diabo é legalista, atua usando princípios da Lei de Deus, quando a quebramos, por mais que Deus seja misericordioso e perdoador, a quebra contínua e voluntária dará autoridade para Satanás nos tocar e nos dominar. Essa então foi a sexta consequência do pecado ilustrada na vida de Sansão.
Como, então, evitar todas essas consequências?
Você que está lendo deve pensar: “que mensagem dura, que pavor veio ao meu coração ao ler isso, pois me identifico com muitas coisas que estão aqui escritas, o que devo fazer então”?
Se você foi confrontado pela Palavra de Deus, como todo homem deve ser, se ela trouxe luz e revelação daquilo que você está fazendo e pela Palavra você viu que é pecado e que todas essas consequências estão ocorrendo em sua vida, só há uma maneira de anular o efeito do pecado; é o arrependimento. Veja o que diz Provérbios 28.13: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”. Confessar nossos pecados, arrepender-nos dos mesmos, pedir a misericórdia do Senhor, foi isso que Sansão fez – completamente desnorteado e destruído pela força descomunal do pecado ainda houve solução para Sansão – em Juízes 16.28 ele clamou ao Senhor dizendo: “Senhor Jeová, peço que te lembre de mim, esforça-me agora, só essa vez”!
Sansão com essa frase – e com o tempo sofrido de cárcere – mostra arrependimento. A força de Sansão volta novamente, então ele abraça as duas colunas do templo dos filisteus e as derruba, matando todos os filisteus daquele lugar. Quer dizer que você sabe que Sansão se arrependeu e foi perdoado? Sim, pois ele é citado em Hebreus 11.32 na galeria dos heróis da fé!
Esse é o caminho meu caro leitor: deixe sua vida de pecados, antes que seja tarde demais, antes que não haja mais remédio, antes que você seja exposto e envergonhado e colha consequências irreversíveis a você e a sua família, pois o salário do pecado é a morte (Rm 6.23).
Você pode estar correndo o risco de ser fulminado pelo pecado aqui nesta terra e ainda padecer a eternidade no inferno! Não estou dizendo de um deslize, de uma fraqueza momentânea que todos nós estamos sujeitos, estou dizendo de uma vida na lama do pecado, estou dizendo de pecados maquinados, premeditados.
Lembre-se do que diz a 1João 1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”. Para aqueles que confessam e se arrependem há perdão de Deus, há sangue suficiente para te purificar, há graça abundante sendo derramada sobre você, da mesma forma que foi com o filho pródigo, que arrependido voltou ao lar e foi completamente restaurado e perdoado (Lc 15.11-32). Como Paulo escreveu para aqueles que estão em Cristo, que são nascidos de novo: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós”. (Rm 6.14).
Paulo Junior
www.aliancadocalvario.com

¡¡¡Iglesia Despierta!!!



Obrigada SENHOR, pois até mesmo quando nos fazemos de surdos, o SENHOR tem misericórdia e nos guia pelas veredas eternas! Voltemos ao evangelho!!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Licor do Evangelho - Charles H. Spurgeon

No. 3236
Sermão pregado na noite de 20 de setembro de 1863
Por Charles Haddon Spurgeon


“Dai bebida forte ao que está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito. Que beba, e esqueça da sua pobreza, e da sua miséria não se lembre mais.” Provérbios 31:6-7

Essas frases um pouco estranhas foram ditas pela mãe de Lemuel para seu filho, que provavelmente era Salomão. Já antes, lhe havia dito, “Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beberem vinho, nem dos príncipes o desejar bebida forte; Para que bebendo, se esqueçam da lei, e pervertam o direito de todos os aflitos (versos 4-5)” Mas um rei tal como era Salomão, deve ter tido uma adega repleta de vinhos de todas as classes – por isso sua mãe o instava a dar aos enfermos e aos tristes e pobres que o necessitam mais que ele.

Os judeus tinham por costume dar uma taça de uma bebida forte, misturada com uma potente droga, para drogar os que estavam a ponto de serem executados. Talvez seja esse o sentido das palavras “Dai bebida forte ao que está prestes a perecer.” Também sabemos de pessoas que estiveram muito frágeis e enfermas, a beira da tumba, e como foram aliviadas quando lhes foi dado o vinho que elas não podiam comprar. Creio que esse é um sentido literal do texto, e que, se qualquer homem fosse tão imoral para interpretar que, com a bebida, poderá esquecer sua miséria e pobreza, logo se dará conta de que está deploravelmente equivocado – pois, se antes tinha uma desgraça, depois terá dez desgraças a mais – e se previamente era pobre, depois estará em uma maior pobreza Aqueles que correm até a adega para encontrar consolo melhor poderiam correr para o inferno com a esperança de encontra um céu; e, em vez de ajudá-los a esquecer sua pobreza, a bebedeira os afunda ainda mais na lama.

Vou usar meu texto num sentido espiritual, pois creio que têm um sentido muito mais profundo do que o que brilha na superfície. Existem muitas pessoas que duvidam e se desesperam, e espiritualmente “irão perecer”; e existe na Palavra de Deus uma rica adega de verdades reconfortantes que são muito mais consoladoras para o espírito do que pode ser o vinho para o corpo; e devemos dar esse licor evangélico aos de ânimo amargurado, para que possam beber e esquecer suas misérias, e já não se lembrem mais de suas dúvidas e seus desesperos.
Pretendo obedecer ao mandato do texto, e por ele vou falar de três tópicos – primeiro, que existe um licor muito reconfortante no evangelho; em segundo, que é nosso dever e privilégio dar esse licor a todos que necessitam dele; e, em terceiro, que quando esse licor do evangelho lhes é dado, é seu dever e privilégio bebê-lo, e com ele esquecer sua pobreza espiritual e sua miséria.

I. Assim, pois, EXISTE UM LICOR MUITO RECONFORTANTE NO EVANGELHO. O Dr. Watts[1] diz corretamente:

“Salvação! Oh, som jubiloso!
É prazer para nossos ouvidos;
Bálsamo soberano para toda ferida.
Licor para nossos temores.”

Tomarei primeiro o caso de um verdadeiro crente em Jesus dolorosamente posto a prova com preocupações, perdas e problemas. Irei supor que vocês vieram aqui essa noite com o temor de o que possa suceder amanhã. Talvez sua inquietude, meu irmão, é de que seu negócio não anda bem, e a pobreza lhe encara fixamente. Possivelmente você, minha irmã, têm pesar por esse querido menino que descansa em seu pequeno caixão no silencioso quarto do andar superior de sua casa. Ou, possivelmente, você, amigo, possui uma esposa doente e dia a dia, vê novos sinais e indícios de que a grande perda te espera certamente. Não posso mencionar todas as causas que podem entristecer o coração dos que são membros crentes dessa grande igreja, porém, meu Senhor me enviou aqui com Seu próprio bendito licor, que é mais que suficiente para consolar a cada santo aflito que lê essa mensagem.

Lembre-se, amado irmão, que tudo o que lhe sucede vêm seguindo o curso da Divina Providência. Seu amante Pai celestial previu, conheceu de antemão e, atrevo-me a dizer, predestinou tudo. O remédio que você tem que beber é muito amargo, mas o Médico infalível mediu todos os ingredientes gota a gota, e os misturou de maneira tal que pudessem ser mais efetivos para seu maior bem. Nada acontece nesse mundo por casualidade. Esse grande Deus que está sentado sobre o circulo dos céus, para quem todas as coisas que fez não são mais que o pequeno pó da balança, que faz das nuvens Sua carruagem, e que viaja sobre as asas do vento, esse mesmo Deus se preocupa por você com tamanho cuidado que tem contado até os fios dos cabelos de sua cabaça, e colocou suas lágrimas em um vaso. Consequentemente, você pode descansar seguro que todas essas experiências que lhe causam tanta aflição acontecem conforme Seu eterno conselho e decreto. Acaso esse licor divino não lhe faz esquecer sua pobreza e apaga sua desgraça?

Recorde, também, que tudo o que sucede aos crentes ajuda para seu bem presente e duradouro. “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28). Se você tivesse oportunidade de escolher sua própria circunstancia e condição na vida, não poderia ter feito uma escolha mais sabia do que a que Deus fez por você.

O jardineiro sabe onde suas plantas florescerão melhor. Algumas delas talvez prefiram crescer banhadas com a luz do sol ainda que, como as da família das samambaias, estão melhores na sombra. Algumas delas prefeririam estar em um musgoso banco, mas o jardineiro a coloca em um arenoso solo, porque sabe que esse local está mais bem adaptado as necessidades de sua natureza. Você deve confiar nele, pois jamais um pai terreno esteve tão atento ás necessidade de seu filho do que como o Pai celeste está com suas necessidades. Quando alguém escolhe a ocupação que considera a mais adequada para seu filho, ele pode estar escolhendo sem querer a carreira que provará ser sua ruína – mas quando Deus planeja seu futuro, tem mais cuidado de endireitá-lo para você do que você em arrumar ele para seu filho, e como Ele vê o fim desde o começo, o que você não pode ver nem para você mesmo muito menos para seu filho, Ele faz a eleição em seu lugar com infalível sabedoria. Querido irmão e irmã em Cristo, não pretenda que seja diferente – não só esteja contente com o que possui como também diga como Davi, “O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte. As linhas[2] caem-me em lugares deliciosos: sim, coube-me uma formosa herança.” (Salmos 16:5-6) Assim, bebe esse licor divino e esquece sua necessidade, e já não se lembre de sua miséria.

Ademais, querido amigo, não sabes que o Senhor Jesus Cristo está contigo em toda sua pobreza e sua miséria? Sadraque, Mesaque e Abed-Nego jamais se deram conta da presença do Filho de Deus de maneira tão maravilhosa quanto quando foram lançados vivos no forno de fogo ardente de Nabucodonossor – mas Sua presença em meio deles foi tão manifesta que até o rei pagão exclamou: “Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus.” (Daniel 3:25)

Existem muitos bebês que não recebem mimos nem caricias quando tudo anda bem, porém, se ficam doentes, pareceria até que todo o amor da mãe se concentraria nesse membro da família – é para você que precisa especialmente de uma mensagem animadora que o Senhor diz: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.” (Isaías 66:13) Foi para seu antigo povo que dei essa graciosa promessa, e era referente a eles que dizia “Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade.” (Isaías 63:9) É assim que ainda, terna e amorosamente, ocupa-se de seu povo atormentado e afligido, e esse pensamento deve ser como um licor que os faz esquecer sua necessidade e sua miséria.

Eu poderia continuar a noite inteira tratando de reconfortar aos santos que são provados, mas devo contentar-me em dar-lhes somente mais um gole desse licor divino, e será esse: lembrem-se como rapidamente essas duras experiências terminarão. Tem presença de ânimo, cansado peregrino – a mansão celestial onde você deve descansar para sempre está quase à vista – bem podes cantar –

“A casa de meu Pai no alto,
Lar de minha alma! Qual próxima,
Às vezes, em meu olhar de fé que vislumbra,
aparecem Tuas portas de ouro!”

Assim como os anos passam rápido, nossas duras experiências e problemas também voam rápido assim. Paulo corretamente escreveu concernente a “nossa leve e momentânea tribulação” (2 Coríntios 4:17); porque, depois de todas nossas aflições, elas são só como sonhos que nos atormentam, um pequeno sobressalto no dormir da vida, e logo despertaremos para já não dormirmos nunca mais. Esse mundo é, para o crente, como uma pousada do lado do caminho, onde existem muitas pessoas que constantemente vem e vão, e existem tantos ruídos perturbadores que ninguém pode descansar. Bem, não importa, você está detendo-se ali só por uma curta noite, e logo se levantará e irá a seu eterno lar, para não sair de lá jamais. Esse licor não lhes fará esquecerem sua pobreza e não apagará suas misérias?

Agora considerarei o caso de um verdadeiro crente em Jesus que tem uma alma muito abatida. Você, meu amigo, inclina-se a dizer, com Hemã, o ezraíta: “SENHOR Deus da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite.” (Salmo 88:1) “Puseste-me no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas” (Salmo 88:6) “SENHOR, porque rejeitas a minha alma? Por que escondes de mim a tua face?” (Salmo 88:14) Está agora inclinado a pensar que agora pode entender esse grito de Cristo na cruz, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46) O Senhor parece por um ouvido surdo a suas suplicas, orar é uma pesada carga para você, não tem visões reconfortantes do rosto do Salvador, as épocas passadas de santo gozo só são recordadas por você com pesar de que já não terá de novo essas felizes experiências – até mesmo quando olha para palavra de Deus, seu olho parece fixar-se somente nas ameaças, e nunca adverte das muitas “grandíssimas e preciosas promessas” (2 Pedro 1:4) – e sua alma “irá perecer” na desesperação. Bem, meu pobre irmão, se alguma vez houve um tempo em que precisasse do vinho condimentado do pacto da fidelidade de Deus e o delicioso e nutritivo néctar do eterno amor de Jesus Cristo, é agora. Pergunto-me o que fazem os arminianos quando são possuídos desse tipo de calafrio espiritual, e tremem aterrorizados desde a cabeça a planta dos pés – eu sei isso, e quando tenho esses ataques (e os tenho muito seriamente as vezes) volto-me para aqueles textos que falam mais da graça imerecida e soberana, e tento obter a medula e a grossura deles para alimentar minha alma faminta. Aqueles que espiritualmente “negociam nas grandes águas,” (Salmos 107:23), encontram que nada lhes servirá de ajuda a não ser somente os decretos eternos de Deus, os propósitos inalteráveis de Deus, a fidelidade infalível de Deus, a graça de Deus que distingue e que discrimina – pelo menos essa é minha própria experiência, e lhe exorto, irmão e irmã que não possui esperança, a que dê um grande trago desse licor divino para que se esqueça de sua pobreza espiritual, e não se toque mais de sua miséria. Não é provável que converta as elevadas doutrinas do evangelho em algo mau, logo, venha e alimente-se delas até que sua alma se satisfaça com esses requintados bocados da casa dos banquetes do Senhor. Aceita seu convite imerecido, “comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados.” (Cânticos 5:1)

Entre as outras coisas reconfortantes que diria a um irmão que sofre de abatimento em sua alma, estaria essa: lembre-se, irmão, que se alguma vez foi um filho de Deus, é um filho de Deus agora mesmo. Você passa por muitas mudanças, porem, possui um Salvador que sempre é o mesmo, “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente!” (Hebreus 13:8) Tem seus altos e baixos, muda como cada fase da Lua, porem, com o grande “Pai das luzes ... não há mudança nem sombra de variação.” (Tiago 1:17) Corretamente cantamos –

“Imutável sua vontade
Qualquer que seja meu estado;
seu coração amoroso é sempre
Eternamente o mesmo
Minha alma por muitas mudanças passa,
Seu amor não conhece variação.”

Ele nunca começou um trabalho de graça em alguém, para logo deixá-lo sem terminar. Jamais adotou um filho em sua família, e logo o deixou para que perecesse. O Senhor Jesus Cristo jamais se casou primeiro com uma alma, e logo se divorciou dela, porque Ele odeia abandonar. Ele nunca se apartará de nenhum membro de seu corpo místico – se pudesse fazer uma coisa tão terrível, Ele mesmo estaria incompleto. Assim, meu irmão desesperado, digo-lhe que se alguma vez teve a luz e o amor de Deus em sua alma, não só é, todavia, um homem salvo, antes, que logo virá o tempo quando saibas que é assim. Como Jonas, sairá das profundezas e também com ele dará toda a glória de sua salvação ao Senhor.

Também quero tentar reconfortar a alguns verdadeiros crentes em Jesus que temem não ser realmente do Senhor. Dá-me gosto que John Bunyan mencionou alguns de seus nomes em sua imortal alegoria[3], porque ainda temos ente nós exemplares de pessoas que respondem a descrição do Sr. Temeroso, Sr. Mente Fraca, Sr. Desalento e sua filha a senhorita Muito Assustada, o Sr. Pronto Pra Parar, um tal Sr. Pouca Fé, e, eventualmente aqui e ali, encontramos a um Sr. Grande Coração, ou a um Sr. Firme, ou a um Sr. Valente Pela Verdade. Bem, queridos amigos, se estão aqui essa noite, deixem-me recordar-lhes quem, ainda que sejam os menores da família de Deus, não são pequenos aos olhos do Senhor. Ele os ama tanto como ao maior santo que tenha vivido. Quando o Senhor deu o mandamento a Moisés referente ao resgate por cada alma contada entre os filhos de Israel, estabeleceu expressamente, “O rico não dará mais, e o pobre não dará menos da metade do siclo, quando derem a oferta alçada ao SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.” (Êxodo 30:15)

Igualmente, na expiação efetuada pelo Senhor Jesus Cristo, custou-lhe a Ele o mesmo, e não mais, resgatar tanto o menor de Seu povo quanto ao maior, e os ama por igual. Pode usar algum deles, como seus instrumentos, mais do que usa outros, mas lhes têm a mesma consideração a todos. Se alguma vez faz uma diferença em seu trato para com eles, são os mais frágeis os que têm a preferência – leva aos cordeiros em seu peito, porem, deixa que as ovelhas fortes o sigam em seu caminho.

Tenham, pois, bom consolo, frágeis companheiros que pertencem a Cristo, e também lembrem que os santos menores estão tão seguros como os maiores. Se estivermos com Cristo no barco de sua Igreja, estamos tão seguros que jamais pereceremos, porque se pudéssemos perecer, também Cristo pereceria, e isso nunca pode ou poderá suceder. O maior santo que tenha servido a seu Senhor com zelo apostólico até mesmo com o próprio sacrifico de sua vida imitando a Cristo, tem que confiar para sua salvação no sangue e na justiça de Jesus Cristo, e o santo mais débil tem que fazer precisamente o mesmo - e um não é mais salvo, nem está mais seguro que outro. Assim, que o Sr. Temeroso e a senhorita Muito Atemorizada bebam do licor divino, e já não tenham dúvidas e nem estejam mais tristes.

Creio que meu texto possui também uma mensagem especial para o pecador que tem seu coração afligido, e seu espírito desanimado. Para alguém assim, hoje eu ofereceria o licor do evangelho assim: meu amigo, lembre-se que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar aos pecadores.” Essa palavra: pecadores, inclui a você; e se você me perguntar, “O que devo fazer para ser salvo?” repondo como Paulo fez quando lhe fizeram essa pergunta, “Crê no senhor Jesus e serás salvo.” Assim, como vocês tem um mandato de crer em Cristo, de descansar Nele, de confiar que Ele os salva, a vocês mesmos, não pode ser presunção de parte de vocês crer que é assim. Jesus Cristo é “grande para salvar,” Ele é capaz de salvar plenamente a todo o que venha a Deus por Ele. Se aqui existe um pecador que é tão mal que eu não poderia descrever seu caso diante de vocês, não é tão mal para que Cristo lhes lave - então, porque se desespera, ó você que “irá perecer,” vendo que Deus entregou a Seu Filho amado por pecadores como você?  Seus pecados são grandes, eu sei, e gritam em voz alta pedindo seu castigo; porem, no momento em que você arrependa-se deles, e confia no sangue de Jesus para lhe limpar deles, você será feito perfeitamente são. Seus pecados lhe serão borrados tão completamente que Deus diz que se fossem buscados, não seriam mais achados; sim, não seriam encontrados. Serão tão absolutamente apagados como se você nunca os tivesse cometido. Que licor mais reconfortante é esse que pode ser servido para você? Então, beba dele e esqueça-se de sua necessidade, e não se lembre mais de sua miséria.

II. Posso falar só brevemente do segundo ponto, o que é, que É NOSSO DEVER E PRIVILÉGIO DAR ESSE LICO A TODOS OS QUE PRECISAM DELE.

Irmãos e irmãs em Cristo, quero que todos obedeçam ao mandato do texto dando esse licor do Evangelho aos que estão com seu coração aflito e “irão perecer.” Alguns de vocês podem fazê-lo falando de sua própria experiência. Quando se encontrem com almas que duvidam e que estão desanimadas, digam-lhes como o Senhor os libertou do sóbrio calabouço do grande Gigante Desespero no Castelo da Dúvida; recorde-lhes dessa chave chamada Promessa, que pode abrir as portas da prisão onde estão presos com grilhões de ferro.

É-nos dito que Orígenes, enquanto sua força o permitia, sempre se dirigia as prisões onde os cristãos estavam confinados durante a perseguição de Décio, e depois acompanhava-lhes até o campo de sua execução, confortando-lhes com as Escrituras que ele tinha encontrado que eram um grande apoio para sua própria alma - imitem ele até onde possam ainda que os cristãos não sejam perseguidos de morte

Muitos de vocês podem regalar desse licor do Evangelho visitando ao enfermo e ao pobre. Em uma igreja tão grande como essa, é impossível que o pastor ou os anciãos visitem todos os membros e muito menos que possam visitar a todos aqueles que formam nossa grande congregação – por isso eu os exortaria que vocês façam o máximo de visitas que possam. Especialmente eu chamaria a aqueles que possuem a experiência mais profunda das coisas de Deus para que encontrem o doente e ao afligido em suas vizinhanças, e os confortem, com o consolo com que vocês mesmo são reconfortados por Deus.

Então, muitos mais dos que atualmente o fazem poderão regalar esse licor evangélico, pregando em qualquer lugar e em qualquer momento que tenham oportunidade. Em uma cidade como Londres, onde cada esquina pode proporcionar um púlpito, e cada rua pode proporcionar uma congregação, não há desculpa para que o homem que tenha só um talento não o utilize para Cristo. A boa nova que ele tem para falar, meu irmão, é tão doce que deve ser repetida, repetida e repetida até que todo vento difunda a boa notícia para –

Todas as gentes que habitam sobre a terra.”

Também rogo ao Senhor que avive muitos irmãos e irmãs dentre nós, para que se encaminhem às “regiões mais adiante”, como missionário da cruz, e que lhes movam a vocês, que não podem pregar, para que ofertem de acordo a suas possibilidades, quer seja para a preparação de nossos irmãos no Colégio do Pastor[4], ou para suporte daqueles que são chamados por Deus para pregar e ensinar a Palavra em terras longínquas onde Jesus não é conhecido. Dessa forma, também estarão ajudando a dar o licor do evangelho aos que tem seu coração angustiado e “irão perecer.”

III. Agora, finalmente, mas de forma breve, QUANDO ESSE LICOR DO EVANGELHO É DADO A ESSAS PESSOAS, É SEU DEVER E PRIVILÉGIO BEBÊ-LO e esquecer-se de sua pobreza espiritual, e não lembrar mais de sua miséria.

Podemos levar um cavalo até onde haja água, mas não podemos forçar ele a bebê-la; e podemos levar esse licor evangélico ao pecador, porem só o Espírito Santo pode forçar-lhe docemente a que tome um gole grande e profundo dele. Tratei de dar esse licor outra vez essa noite a todos aqueles que o necessitam, como seguramente o estive fazendo desde que o Senhor abriu minha boca pela primeira vez para falar Dele, mas o que passa com a parte que toca a vocês, meus queridos leitores? É meu dever e privilégio pregar o evangelho, porem, também é dever o privilégio de vocês crerem nele quando lhes é pregado; “A fé vem pelo ouvir;”, porem, ai, existem muitos que ouvem a Palavra e que são como aqueles dos quais o apóstolo descreveu que “a eles de nada se aproveitou ouvir a palavra, porque não se identificaram por fé com os que a obedeceram.” Ter o remédio em sua mão, e não o tomar, é cometer um suicídio espiritual; lhe suplico, pecador, que não agregue esse crime para coroar com ele todas a suas outras iniquidades; porém, rogo-lhe, nessa mesma hora, que aceite essa dádiva concedida. A água de vida está posta diante de você. Bebe e vive. O pão de vida está colocado a seu alcance, por que sua alma imortal teria que padecer de fome e perecer?

Teme ser um pecador tão terrível que não possa ser salvo? Lembre das palavras de Agur referentes a uma das “quatro coisas são das menores da terra”, e “porém bem providas de sabedoria.” Ele disse, “A aranha se pendura com as mãos, e está nos palácios dos reis.” (Provérbios 30:24-28) Pode ser que Agur tenha visto uma grande e negra aranha no palácio de Salomão, e que, ao refletir nisso, disse a si mesmo, “essa feia criatura é muito sabia, porque via vir uma grande tormenta, e seu lar não era um lugar segura; assim, buscando refugio, deu-se conta de uma janela aberta no palácio do rei, e por ali entrou. Ela não tinha direito de estar lá, ninguém a tinha convidado, mas ali estava.” Agora, pobre pecador, essa aranha não estava tão cheia de veneno como você está de pecado – se aproxima a tormenta mais grande do que a que assustou a aranha, e a porta da misericórdia de Deus está tão certamente aberta como estava a janela no palácio de Salomão – e você sim está convidado a entrar, mas a aranha nunca foi chamada. Pecador seja ao menos tão sábio quanto a aranha, e entra no palácio real da salvação de Deus, porque, uma vez dentro, jamais será tirado!

Ainda tem medo de vir a Jesus? Então, deixa-me lembrar-lhe da pobre mulher que veio e tocou a orla de Sua veste, e foi curada instantaneamente da enfermidade que a possuía desde muito tempo. Você lembra que ela estava cerimonialmente impura, e não podia nem sequer estar em meio da multidão; no entanto, estava tão ansiosa de ser curada que abriu caminho através da turba até que esteve suficientemente perto de Jesus para tocar a ponta de Seu manto sem costura, porque ela disse, “Se somente tocar seu manto, serei curada.” Assim fez, e Cristo imediatamente honrou sua fé, e lhe deu segurança imerecida dizendo-lhe “vai em paz”, conservando a cura que ela tinha obtido, por assim dizer, às escondidas. Oh pecador, não quer ser tão sábio como foi essa pobre mulher? Não precisa tentar roubar a benção, porque você está convidado a vir tomar ela abertamente.

Jesus ainda diz “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28)  Descanso é o que você precisa, descanso de mente, de coração, da consciência – esse descanso só pode chegar a você pela fé, “Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso” (Hebreus 4:3), Ah, vocês pecadores  oprimidos pela pobreza e pela miséria, creiam em Jesus: tomem seu julgo sobre vocês, e aprendam dele, porque assim acharão repouso para suas almas; e então também se darão conta que “há” um outro repouso, um mais completo e mais bendito , o eterno “guardar o dia de repouso” que é a bendita herança de todo “o povo de Deus.” Ali está o divino licor que nos é mandando colocar ao alcance de vocês – bebam dele e esqueçam de sua pobreza e não lembrem mais de sua miséria. Deus os abençoe, por Cristo. Amém.



FONTE:
Traduzido do espanhol El Licor Del Evangelio, tradução de Allan Román, com autorização e permissão deste para o português para o Projeto Spurgeon , de http://www.spurgeon.com.mx/
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 3236—Volume 57 do Metropolitan Tabernacle Pulpit

Tradução: Armando Marcos Pinto
revisão: Camila Freire


[1] Issac Watts, famoso compósito de hinos cristãos do século 17
[2] divisas - ARA
[3] O Peregrino
[4] Instituição de treinamento e formação ministerial fundada por Spurgeon em 1857 que ainda existe hoje com o nome de Spurgeon’s College. (N.T)